Por: Miguel Nicolaevsky, servo dos servos em Sião
Há uma dor que consome a alma dos que ainda temem a Deus e zelam pela verdade. Não é dor física, mas espiritual — um clamor silencioso, angustiante, que nasce da constatação de que a Igreja, o Corpo que deveria refletir a glória do Messias, se encontra adoecida, fraca e, em muitos casos, irreconhecível. O que vemos hoje, com raras e preciosas exceções, é uma noiva despreparada, com as lâmpadas apagadas, sem azeite, como as virgens néscias da parábola (Mateus 25:1-13). Vemos líderes apaixonados pelo púlpito, mas não pela presença de Deus; ministérios poderosos aos olhos dos homens, mas inoperantes diante do Céu.
Essa dor, inquietação, e gemido do espírito, foram o combustível para que eu não hesitasse em escrever este este estudo em forma de carta a igreja no Brasil, e quem sabe no Mundo. Ele não nasceu de um desejo de crítica destrutiva ou julgamento, mas do zelo pela verdade e do profundo temor do Senhor. Os sinais dos tempos estão aí: guerras, iniquidade multiplicada, amor se esfriando, confusão doutrinária, a indústria da fé florescendo sobre os escombros da verdade (Mateus 24; 2 Tessalonicenses 2). Como ficar em silêncio?
A Igreja precisa despertar! Precisamos chorar entre o alpendre e o altar (Joel 2:17), clamar por um retorno ao Evangelho puro, ao ensino de Yeshua, ao caráter revelado no Sermão do Monte. Precisamos urgentemente nos livrar das teologias e ideologias humanas que deformam a imagem do nosso Salvador.
Este estudo é um apelo. Um apelo por sobriedade. Um chamado à lucidez espiritual. Uma convocação a líderes e liderados a deixarem os títulos, as fachadas, os sistemas e voltarem ao serviço humilde, ao discipulado verdadeiro, ao Reino que não é deste mundo.
Leia com temor. Reflita com humildade. Que o Espírito do Eterno ilumine seus olhos e aqueça sua lâmpada com o azeite da verdade e da presença.Nas últimas décadas, a expansão das igrejas, tanto no Brasil quanto em Israel, tem caminhado lado a lado com um fenômeno preocupante: o crescimento da apostasia. Embora à primeira vista pareça haver avivamento, basta uma análise mais profunda das Escrituras para perceber que muito do que se apresenta como “espiritual” é, na verdade, carnal, terreno e contrário ao ensino de Yeshua.
APOSTASIA ENTRE OS LÍDERES: A BUSCA PELO TRONO, NÃO PELA CRUZ
Em Mateus 20:20-28, vemos os filhos de Zebedeu, através de sua mãe, pedindo lugares de honra ao lado de Yeshua em Seu Reino. A resposta do Messias revela o espírito correto da liderança no Reino de Deus: serviço sacrificial, e não domínio autoritário.
“…qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir…” (Mateus 20:27-28)
Hoje, muitos líderes se autodenominam “apóstolos”, “patriarcas”, “mestres”, “bispos” – e exigem ser chamados assim. No entanto, o próprio Yeshua advertiu:
“A ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus… todos vós sois irmãos.” (Mateus 23:9)
Esse ensino não é uma proibição literal de títulos, mas um chamado à igualdade, humildade e fraternidade. Quando exaltamos títulos mais do que o nome de Yeshua, estamos em grave perigo: a glória que deveria ser d’Ele é desviada para homens.
A FALSA AUTORIDADE E A PROFISSIONALIZAÇÃO DA FÉ
Líderes que não aceitam ser chamados pelo nome, que só atendem quando precedidos por títulos e que colocam barreiras de hierarquia e honra humana, estão operando não como servos, mas como senhores – como os príncipes dos gentios que dominam sobre os outros. (Mateus 20:25)
Se você, líder, não se vê mais como um servo e sim como uma “autoridade espiritual”, talvez esteja mais próximo de um sistema religioso apóstata do que de uma igreja viva. Se você, irmão, se refere ao seu líder com temor reverente, mais do que ao próprio Deus, é hora de reavaliar sua fé.
A INDÚSTRIA DA DOAÇÃO: FÉ À VENDA
Outro sinal grave da apostasia moderna é o que chamamos de “a indústria da doação”. Embora doar seja bíblico e espiritual (2 Coríntios 9:7), a comercialização da fé por meio de promessas vazias e campanhas manipulativas tem pervertido o propósito da generosidade.
“Doem e vejam salvações”, prometem alguns. Mas salvação não pode ser comprada, nem com prata nem com ouro. (1 Pedro 1:18-19)
Tanto no contexto cristão quanto entre comunidades religiosas em Israel, promessas de bênçãos em troca de dinheiro se tornaram norma. Esse modelo não só distorce o Evangelho, mas cria dependência espiritual e centraliza o poder e os recursos nas mãos de poucos.
A crítica aqui não é contra a doação em si, mas contra a sua instrumentalização como moeda de troca com Deus. Isso é paganismo com uma roupagem bíblica. Yeshua não nos chamou para sermos financiadores de estruturas religiosas corruptas, mas sim para servirmos com o coração sincero, seja com recursos, seja com tempo, seja com nossas vidas.
O ANTÍDOTO: SERVIÇO, HUMILDADE E DISCERNIMENTO
Diante de tudo isso, o chamado é claro: fuja da apostasia. Se você é um líder, abandone os títulos que alimentam o ego. Se é um liderado, pare de idolatrar homens e títulos. Volte-se à simplicidade do Evangelho. Sirva. Doe com discernimento. Questione. Exerça sua fé com sabedoria.
Faça um teste: tente doar tempo, atenção, serviço ao invés de apenas dinheiro. Veja a reação da liderança. Se for rejeitado, é um sinal claro de que o interesse não é espiritual, mas financeiro.
CONCLUSÃO: UM CHAMADO URGENTE
Estamos nos aproximando dos dias finais. A apostasia não virá apenas com falsas doutrinas escancaradas, mas com disfarces piedosos, com títulos “ungidos”, campanhas “santas” e “líderes carismáticos” que usurpam a glória de Deus.
Líder ou liderado, a decisão é sua. Volte à Palavra. Sirva com humildade. Doe com sabedoria. Abandone os títulos e assuma a identidade de servo e irmão.
Porque no fim, quando tudo for julgado, só permanecerá o que foi feito em verdade, amor e fidelidade ao Messias Yeshua.
Aplicações: Vivendo como Cidadãos do Reino
Abandone os títulos para abraçar a identidade de servo
“Mas o maior dentre vós será vosso servo.” (Mateus 23:11)
Yeshua nos chama a renunciar à sede por reconhecimento e posições de honra. Se você é líder, questione sinceramente: você aceitaria ser apenas chamado pelo seu nome? Ser tratado apenas como “irmão”, “irmã”? Isso revela onde está seu coração. A honra no Reino não é medida por títulos, mas pela disposição de servir.
Ação: Escolha intencionalmente abrir mão de títulos em ambientes espirituais. Incentive os outros a fazerem o mesmo. Promova uma cultura de igualdade entre irmãos.
Desconstrua a teologia da performance e retorne à essência
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mateus 7:21)
A cultura religiosa moderna valoriza “resultados ministeriais”, seguidores, templos e aplausos. Mas Yeshua nunca chamou para o sucesso visível, e sim para a obediência. Ser eficaz aos olhos dos homens não é garantia de fidelidade aos olhos de Deus.
Ação: Avalie seu ministério (ou apoio a ele) não por números, mas por frutos de arrependimento, justiça, misericórdia e fidelidade à Palavra.
Doe com discernimento, não por pressão emocional
“Cada um contribua segundo propôs no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.” (2 Coríntios 9:7)
Doar é bíblico, mas o sistema moderno manipula emoções e culpa. A indústria da doação é real e perigosa. O verdadeiro servo de Deus deve poder dizer: “aceito seu serviço, antes do seu dinheiro”.
Ação: Antes de doar, investigue a integridade da obra. Experimente oferecer ajuda em forma de tempo ou serviço. Se não aceitarem, reconsidere.
Submeta toda doutrina ao crivo do caráter de Cristo
“Examinai tudo. Retende o bem.” (1 Tessalonicenses 5:21)
Se uma doutrina te leva à soberba, ao julgamento, ao orgulho espiritual ou à ganância, ela não veio de Yeshua. O verdadeiro ensino do Reino sempre nos conduz à humildade, à dependência e à justiça.
Ação: Pergunte-se: “Essa mensagem que ouvi ou ensino que recebi me faz parecer mais com Yeshua?” Se não, descarte-o com coragem.
Renove diariamente o azeite na sua lâmpada
“E as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas.” (Mateus 25:4)
Não basta ter uma aparência de fé. O azeite representa intimidade com o Espírito, vida de oração, quebrantamento e renúncia. Sem azeite, você será surpreendido quando o Noivo vier.
Ação: Reserve tempo diariamente para buscar ao Pai em secreto. Não negocie isso. O óleo se adquire em secreto, mas brilha em público.
Um Clamor pela Sabedoria e Retorno ao Caminho Estreito
Querido leitor, não se engane: apostasia não é apenas negar a fé — é desviar-se imperceptivelmente do verdadeiro Evangelho. É trocar a cruz pela carreira, o serviço pela autoridade, a graça pela manipulação, o Reino pela instituição.
Se você é líder, reavalie seu chamado. Não se torne um profissional da fé. Abandone o pedestal, abrace a toalha e a bacia (João 13). Sirva. Pregue arrependimento, justiça, misericórdia. Pare de alimentar um sistema que transforma ovelhas em cifras.
Se você é liderado, pare de idolatrar homens. Desça do pedestal o “ungido”, e olhe para o Ungido verdadeiro. Não tenha medo de sair de sistemas que não refletem Yeshua. O Caminho é estreito, sim — mas Ele prometeu estar conosco até o fim (Mateus 28:20).
O Sermão do Monte (Mateus 5–7) é a constituição do Reino. Tudo o que não se alinha com esse padrão deve ser deixado para trás. Porque no fim, os cidadãos do Reino não serão conhecidos por seus títulos, igrejas ou ministérios… mas por serem pacificadores, humildes, limpos de coração, famintos por justiça, misericordiosos e perseguidos por causa da retidão.
Voltemos ao que é eterno. Abandonemos a vanglória. Que possamos ser achados fiéis. Que possamos ser contados entre os prudentes, com as vasilhas cheias, aguardando com temor e amor a vinda do nosso Rei.
No Mashiach Yeshua, seu irmão e servo, desde Sião,
Miguel Nicolaevsky