O sussurro da ovelha, os servos, e o Bom Pastor
O sussurro da ovelha, os servos, e o Bom Pastor

O sussurro da ovelha, os servos, e o Bom Pastor

Uma experiência simples, porém inesquecível

Shalom desde Sião.

Anos atrás, quando minhas manhãs começavam ainda antes do sol tocar o céu, eu cultivava o hábito de sair para fotografar antes de ir trabalhar em uma empresa de alta tecnologia. Eram momentos em que a natureza parecia falar, quando o mundo ainda cochilava e a luz dançava tímida entre as árvores.

Naquele dia, o céu exibia tons suaves de azul e amarelo. Eu dirigia por uma estrada estreita, serpenteando entre coníferas altas e silenciosas. As copas densas deixavam o ambiente em penumbra, apenas alguns feixes de luz escapavam entre os galhos, criando pequenos altares de claridade no chão do bosque.

O rádio do carro tocava um louvor alto, preenchendo o espaço com cânticos de adoração. Mas, de repente, algo em meu espírito inquietou-se. Uma sensação sutil — como se olhos me observassem, como se a floresta guardasse um segredo que queria me contar.

Baixei o volume, desliguei o rádio. O silêncio caiu como um manto. Abri os vidros do carro, e um aroma de pinho e terra molhada invadiu o veículo. Fiquei ali, atento. Foi então que ouvi. Um som baixo, entre um balido e um sussurro aflito, vindo de entre os arbustos.

Curioso e cauteloso, estacionei e desci do carro. A luz filtrada pelas árvores pintava o ambiente com tons dourados e sombras compridas. Segui o som até encontrar a cena: uma ovelha jovem, com a lã suja de folhas e poeira, estava presa entre o tronco de um cipreste e uma grande planta espinhosa.

Ela parecia cansada, os olhos marejados e a respiração curta. Notei que havia algo preso em sua orelha — um curativo talvez, sujo e desbotado. Imaginei há quanto tempo estaria ali, lutando em silêncio, esquecida pelo rebanho e pelo mundo.

Meu primeiro impulso foi soltá-la, mas logo hesitei. Eu não sabia como manusear uma ovelha emaranhada daquele jeito sem feri-la mais, e tampouco para onde levá-la. Meu coração então se moveu em oração: “Senhor, onde está o rebanho desta pequena? Onde está o pastor que a conhece pelo nome?”

Olhei ao redor e percebi alguns rastros: fezes secas e marcas de pegadas na trilha estreita. Decidi voltar ao carro e seguir em frente, na esperança de encontrar o rebanho e seu pastor.

Cerca de um quilômetro e meio adiante, após uma curva onde a estrada se abria um pouco, a cena se revelou diante de mim como um quadro pintado pela eternidade. Um rebanho inteiro pastava calmamente, os corpos brancos contrastando com o verde escuro da relva. O sol, agora mais forte, despontava no horizonte, e seus raios incidiam por trás das árvores, iluminando a poeira que se levantou quando freei bruscamente o carro. Por um instante, a poeira dourada flutuou no ar, como se cada partícula fosse um reflexo da glória de Deus naquele amanhecer.

Avancei com cautela para não assustar as ovelhas e avistei o pastor — um homem simples, de cajado na mão, já conhecido de outros encontros ocasionais enquanto eu fotografava a região. Chamei-o de longe e ele respondeu erguendo o cajado.

Aproximei-me e contei sobre a ovelha presa no espinhal. Ele me ouviu atento, e então perguntou:
— Era uma pequena, com um curativo na orelha?
Pensei por um momento, e respondi:
— Sim, havia algo ali, parecia um curativo antigo.
Ele suspirou e disse:
— Ah… essa é a minha rebelde. Está sempre se afastando do rebanho, sempre se metendo em encrenca. Mas eu vou buscá-la.

Ofereci carona até o local e ele aceitou agradecido. No caminho, percebi como ele falava da ovelha não com irritação, mas com um misto de preocupação e afeto. Ele sabia de suas fraquezas, de sua natureza arredia, e mesmo assim não desistia dela.

Ao deixá-lo no local onde ela estava presa, ele desceu, ajeitou o chapéu, segurou firme o cajado e disse:
— Pode seguir, moço. Eu cuido dela.

Naquele instante, enquanto o sol subia um pouco mais, e as sombras do bosque começavam a recuar, compreendi de forma vívida uma verdade espiritual: há ovelhas que se perdem e pastores que as conhecem pelo nome. E há homens e mulheres comuns, como eu e você, que são chamados apenas para perceber o gemido e chamar o pastor.

Naquele dia, aprendi que Deus permite que alguém escute o sussurro da dor que o mundo esqueceu, para que o resgate aconteça. E que não importa quantas vezes uma ovelha fuja, o Bom Pastor sempre resgatar ela.

📜 Introdução: Quando o Ordinário se Torna Profético

Às vezes, em meio à rotina, o Eterno nos leva a viver experiências que, à primeira vista, parecem simples, mas carregam uma mensagem eterna. Assim como os profetas eram levados ao deserto, ou Elias ouvia a voz de Deus não no vento forte, nem no fogo, mas no sussurro, Deus fala conosco através das pequenas cenas da vida.

Neste relato, um simples passeio fotográfico se tornou uma parábola viva — como se o próprio céu estivesse encenando diante dos olhos uma lição profunda sobre cuidado, intercessão e redenção.


📖 1️⃣ A Ovelha Perdida e a Realidade do Desvio

📖 Lucas 15:4-7
“Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la?”

A primeira lição aqui é a natureza frágil e propensa ao erro das ovelhas — um símbolo recorrente na Bíblia para representar o povo de Deus (Salmos 100:3; Isaías 53:6). A ovelha em questão:

  • Tinha um histórico de afastamento.
  • Colocava-se repetidamente em situações de risco.
  • Precisava de cuidado constante.

👉 Lição: Assim somos nós, humanos, que mesmo conhecendo o caminho, muitas vezes nos afastamos, presos em situações e ambientes espinhosos. Precisamos lembrar que:

  • O perigo pode vir de pequenos desvios.
  • Ninguém está imune a se perder.
  • Deus sempre está atento, e muitas vezes envia alguém para alertar.

📖 2️⃣ O Som do Gemido Esquecido

📖 Romanos 8:26
“O Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis.”

Você percebeu o som, um pequeno ruído quase despercebido. Assim também acontece com aqueles que sofrem afastados — suas vozes se tornam fracas, mas não inaudíveis para o Eterno.

👉 Lição:
Deus ouve o clamor dos que se perderam. E espera que nós, como sentinelas espirituais, estejamos atentos ao sussurro dos corações feridos e prontos para agir.


📖 3️⃣ O Atalaia Silencioso: O Papel de Quem Percebe

📖 Ezequiel 33:6
“Mas se o atalaia vir a espada e não tocar a trombeta, e o povo não for avisado, e vier a espada e levar qualquer um deles, esse tal foi levado na sua iniquidade, mas o seu sangue requererei da mão do atalaia.”

Você não ignorou a cena. Mesmo não sendo o pastor da ovelha, se preocupou, parou, analisou, e procurou auxílio. Essa é a função de quem percebe:

  • Não agir precipitadamente.
  • Buscar quem tem a autoridade espiritual para resgatar.
  • Ser um colaborador de Deus na redenção de vidas.

👉 Lição:
Todos somos responsáveis por zelar uns pelos outros (Tiago 5:19-20). Quem percebe e se cala, se torna cúmplice do silêncio da queda.


📖 4️⃣ O Pastor Que Conhece Suas Ovelhas

📖 João 10:14
“Eu sou o bom pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.”

O pastor sabia exatamente de quem se tratava:

  • Conhecia o histórico da ovelha.
  • Sabia de suas tendências.
  • Já havia cuidado dela antes (o curativo na orelha era a marca visível desse cuidado).

👉 Lição:
Deus conhece nossas limitações e teimosias. Ele não nos rejeita por errar, mas Se dispõe a buscar-nos quantas vezes for necessário. Como o pastor da parábola, Ele vai até o espinhal para nos tirar.