O calendário descrito na Bíblia não é apenas um sistema para marcar dias e meses — ele é um marcador divino do tempo, usado por Deus para revelar Seus planos, estabelecer Suas festas e apontar para o cumprimento profético em Yeshua (Jesus). Diferente do calendário judaico rabínico adotado hoje, que passou por ajustes ao longo dos séculos, o calendário bíblico original é baseado exclusivamente nas orientações dadas por Deus a Moisés (Êxodo 12 e Levítico 23) e nos movimentos reais do sol e da lua.
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Toggle1. Estrutura do Calendário Bíblico
- Ano Lunar-Solar: Cada mês começa com a lua nova visível (Chodesh, חֹדֶשׁ — “mês, renovação”) e o ciclo anual é ajustado pelo sol e pelas estações.
- 12 Meses, ocasionalmente 13: Quando necessário, um mês extra era acrescentado para alinhar o ciclo agrícola (Shanah Meuberet, שנה מעוברת — “ano grávido”).
- Início no mês de Aviv: O ano começava na primavera, no mês de Aviv (אָבִיב, “espigas verdes de cevada”) — Êx 12:2; Dt 16:1.
- Dias ao pôr do sol: O dia bíblico começa ao pôr do sol (Erev, עֶרֶב) — Gn 1:5; Lv 23:32.
2. Meses do Calendário Bíblico
Nº | Nome Bíblico | Nome Pós-exílio (Babilônico) | Significado Hebraico | Referências |
---|---|---|---|---|
1 | Aviv | Nisã | Espigas verdes de cevada | Êx 12:2; Dt 16:1; Et 3:7 |
2 | Zive | Iyar | Brilho, esplendor | 1Rs 6:1 |
3 | Sivã | Sivã | Época da colheita tardia | Et 8:9 |
4 | — | Tamuz | Nome babilônico de um ídolo | Jr 39:2 |
5 | — | Abe | Choro, lamentação | Nm 33:38 |
6 | Elul | Elul | Colheita, vindima | Ne 6:15 |
7 | Etanim | Tishrei | Fluxos persistentes (rios) | 1Rs 8:2 |
8 | Bul | Marhesvã | Produção, aumento | 1Rs 6:38 |
9 | — | Quisleu | Esperança, confiança | Zc 7:1; Ne 1:1 |
10 | — | Tebete | Afundar, mergulhar | Et 2:16 |
11 | — | Sebate | Vara, cajado | Zc 1:7 |
12 | — | Adar | Força, poder | Et 3:7 |
3. Festas e Eventos Baseados no Calendário Bíblico
Primavera – Mês 1 (Aviv / Nisã)
- Pessach (פֶּסַח, Pesach — “passar por cima, proteger”) — 14 de Aviv/Nisã
📖 Ref.: Êx 12:1-14; Lv 23:5; Nm 9:1-14
📜 Marca a libertação do Egito e aponta para o sacrifício do Messias (1Co 5:7). - Festa dos Pães Asmos (חַג הַמַּצּוֹת, Chag HaMatzot — “festa dos pães sem fermento”) — 15 a 21 de Aviv/Nisã
📖 Ref.: Êx 12:15-20; Lv 23:6-8
📜 Simboliza a vida purificada do pecado (fermento). - Primícias (רֵאשִׁית קָצִיר, Reshit Katzir — “primeiro da colheita”) — 1º dia após o sábado da Páscoa, ainda em Aviv/Nisã
📖 Ref.: Lv 23:9-14
📜 Cumprida na ressurreição de Yeshua (1Co 15:20-23).
Final da Primavera / Início do Verão – Mês 3 (Sivã)
- Shavuot (שָׁבוּעוֹת, “semanas”) — 50 dias após as primícias, início de Sivã
📖 Ref.: Lv 23:15-21; Dt 16:9-12
📜 Marca a entrega da Torá no Sinai e o derramamento do Espírito em Atos 2.
Outono – Mês 7 (Etanim / Tishrei)
- Yom Teruá (יוֹם תְּרוּעָה, “dia de clamor/trombetas”) — 1º de Etanim/Tishrei
📖 Ref.: Lv 23:23-25; Nm 29:1-6
📜 Aponta para o chamado ao arrependimento e a volta do Messias. - Yom Kippur (יוֹם כִּפּוּר, “dia da cobertura/expiação”) — 10 de Etanim/Tishrei
📖 Ref.: Lv 16; Lv 23:26-32; Nm 29:7-11
📜 Dia mais sagrado do ano, reconciliação com Deus. - Sukkot (סֻכּוֹת, “cabanas/tabernáculos”) — 15 a 22 de Etanim/Tishrei
📖 Ref.: Lv 23:33-44; Dt 16:13-17; Ne 8:14-18
📜 Celebra a presença de Deus e simboliza o Reino Milenar.
4. Eventos Bíblicos Ligados ao Calendário
- Dilúvio de Noé — Gn 7:11; 8:4 (datas específicas mostram precisão divina).
- Saída do Egito — Pessach, Êx 12:29-31.
- Entrada em Canaã — Josué celebrou Pessach e as primícias (Js 5:10-12).
- Dedicatória do Templo de Salomão — Sukkot (1Rs 8:2).
- Profecias escatológicas — Ap 8–11 seguem o padrão das festas de outono.
5. Diferença para o Calendário Judaico Atual
O calendário rabínico, fixado no séc. IV d.C., usa cálculos matemáticos em vez de observação da lua nova (Kiddush HaChodesh — consagração do mês) e do estado da cevada (Aviv), alterando o alinhamento original.
Tabela do Calendário Bíblico com Festas, Referências e Significados Proféticos
Mês Bíblico | Nome Hebraico Original | Nome Pós-Exílio (Babilônico) | Significado Hebraico | Festa(s) Bíblica(s) | Data no Mês | Referências Bíblicas | Simbolismo Profético |
---|---|---|---|---|---|---|---|
1 | אָבִיב (Aviv) | Nisã | Espigas verdes de cevada | Pessach (פֶּסַח, Passar por cima) | 14 | Êx 12:1-14; Lv 23:5 | Sacrifício de Cristo, libertação do pecado |
Pães Asmos (חַג הַמַּצּוֹת) | 15–21 | Êx 12:15-20; Lv 23:6-8 | Vida sem fermento, santificação | ||||
Primícias (רֵאשִׁית קָצִיר) | 1º dia após o sábado | Lv 23:9-14 | Ressurreição de Yeshua, promessa da colheita final | ||||
2 | זִיו (Zive) | Iyar | Brilho, esplendor | — | — | 1Rs 6:1 | Período de transição e preparação |
3 | סִיוָן (Sivã) | Sivã | Época da colheita tardia | Shavuot (שָׁבוּעוֹת, Semanas/Pentecostes) | Início de Sivã | Lv 23:15-21; Dt 16:9-12 | Entrega da Torá e derramamento do Espírito |
4 | — | Tamuz | Nome de ídolo babilônico | — | — | Jr 39:2; Ez 8:14 | Apostasia e idolatria |
5 | — | Abe | Choro, lamentação | — | — | Nm 33:38 | Tristeza, destruição do Templo |
6 | אֱלוּל (Elul) | Elul | Colheita, vindima | — | — | Ne 6:15 | Tempo de arrependimento e preparação para as festas de outono |
7 | אֵיתָנִים (Etanim) | Tishrei | Fluxos persistentes (rios) | Yom Teruá (יוֹם תְּרוּעָה, Trombetas) | 1 | Lv 23:23-25; Nm 29:1-6 | Anúncio da volta do Messias |
Yom Kippur (יוֹם כִּפּוּר, Expiação) | 10 | Lv 16; Lv 23:26-32 | Juízo e reconciliação com Deus | ||||
Sukkot (סֻכּוֹת, Tabernáculos) | 15–22 | Lv 23:33-44; Dt 16:13-17 | Presença de Deus, Reino Milenar | ||||
8 | בּוּל (Bul) | Marhesvã | Produção, aumento | — | — | 1Rs 6:38 | Tempo sem festas — espera e maturação |
9 | — | Quisleu | Esperança, confiança | — | — | Zc 7:1; Ne 1:1 | Preparação para Hanucá (período intertestamentário) |
10 | — | Tebete | Afundar, mergulhar | — | — | Et 2:16 | Tempo de provações e desafios |
11 | — | Sebate | Vara, cajado | — | — | Zc 1:7 | Autoridade e disciplina de Deus |
12 | — | Adar | Força, poder | — | — | Et 3:7 | Libertação (Purim, festa histórica não ordenada por Deus na Torá) |
Evite usar os nomes dos meses judaicos, entenda o porque:
Um aspecto muitas vezes negligenciado, mas de grande relevância histórica e espiritual, é a problemática dos nomes babilônicos que foram adotados após o exílio na Babilônia. Esses nomes não eram meras designações neutras de tempo, mas carregavam forte carga religiosa e cultural, pois estavam diretamente ligados aos deuses pagãos e às práticas de idolatria babilônica. Ao nomear os meses, os babilônios invocavam seus deuses e, em muitos casos, celebravam suas festas idólatras.
Por exemplo:
- Nisã — originado de Nisannu, ligado à deusa Ishtar (Astarte), associada à fertilidade e ao amor, e à renovação da primavera.
- Aiar — do acádio Ayyaru, relacionado à luz e ao brilho, mas também vinculado a celebrações de Ishtar.
- Sivã — de Simānu, mês das colheitas, associado ao deus Sin, divindade lunar.
- Tamuz — homenagem direta ao deus Tammuz (Dumuzi), consorte de Ishtar, ligado à vegetação e à fertilidade, cuja morte e ressurreição eram celebradas com rituais de lamento (cf. Ezequiel 8:14).
- Ab — do acádio Abu, possivelmente ligado a ritos de purificação com água e a divindades ligadas às chuvas.
- Elul — de Elūlu, mês de purificação dos templos, associado também a deuses protetores.
- Tishri — do acádio Tašrītu, “início”, ligado ao deus Akkadian da criação e festivais de ano novo.
- Marcheshvan — de Araḫsamna, “oitavo mês”, vinculado a ritos agrários.
- Kislev — de Kislimu, associado à proteção contra o frio e, em alguns contextos, ao deus Nergal, deus da guerra e do submundo.
- Tebete — de Ṭebētu, vinculado à deusa Ninurta ou deuses da guerra e do inverno rigoroso.
- Shevat — de Šabāṭu, “mês das chuvas”, associado a divindades agrícolas.
- Adar — de Addaru, ligado ao deus Marduk, divindade principal da Babilônia, considerado protetor da cidade e associado ao julgamento dos deuses.
O uso desses nomes, mesmo após o retorno a Jerusalém, reflete como a cultura babilônica deixou marcas na memória e na organização social de Israel. Embora o povo de Deus não prestasse culto a esses deuses, a adoção desses nomes mostra a profundidade da influência cultural do exílio, tornando ainda mais urgente a necessidade de discernimento espiritual para não absorver elementos pagãos como parte natural da vida e da fé.
Notas importantes:
- Datas das festas seguem o mês bíblico e não o calendário gregoriano.
- No calendário bíblico, cada mês começa com a lua nova visível (Rosh Chodesh — ראש חודש).
- Algumas festas não aparecem no calendário bíblico original, mas foram adicionadas na história de Israel (como Hanucá e Purim).
Lições Práticas dos Meses do Calendário Bíblico
1º Mês – Aviv (אָבִיב) / Nisã
Significado: Espigas verdes de cevada — tempo de renovação e começo.
Festas: Pessach, Pães Asmos, Primícias.
Lição Prática:
- Inicie ciclos novos com obediência e pureza, deixando para trás o “fermento” (pecado e hábitos antigos).
- Celebre a redenção, lembrando que Cristo é o Cordeiro que tira o pecado do mundo.
- Entregue a Deus as “primícias” do seu tempo, recursos e talentos.
📖 Texto-chave: 1Co 5:7-8; Rm 6:4.
2º Mês – Zive (זִיו) / Iyar
Significado: Brilho, esplendor.
Festas: —
Lição Prática:
- Tempo de crescer na luz de Deus, buscando mais entendimento da Palavra.
- Invista em cura e fortalecimento interior (Iyar é associado à caminhada no deserto, quando Deus revelou ser “YHVH Rafa” — o Senhor que cura).
📖 Texto-chave: Sl 119:105; Êx 15:26.
3º Mês – Sivã (סִיוָן)
Significado: Colheita tardia.
Festa: Shavuot (Pentecostes).
Lição Prática:
- Busque maturidade espiritual e preparo para receber revelações mais profundas.
- Lembre-se que a colheita de Deus é abundante e o Espírito Santo é dado para capacitá-lo a trabalhar nela.
📖 Texto-chave: At 2:1-4; Mt 9:37-38.
4º Mês – Tamuz (תַּמּוּז)
Significado: Nome de ídolo babilônico — mês marcado por queda espiritual em Israel.
Festas: —
Lição Prática:
- Vigie contra a idolatria sutil e os desvios de coração.
- Reavalie se há “brechas” que permitem frieza espiritual.
📖 Texto-chave: 1Co 10:14; 1Jo 5:21.
5º Mês – Abe (אָב)
Significado: Choro, lamentação.
Festas: — (período histórico de destruição do Templo).
Lição Prática:
- Permita que a tristeza pelo pecado produza arrependimento genuíno.
- Ore pela restauração espiritual e física de Israel.
📖 Texto-chave: 2Co 7:10; Sl 122:6.
6º Mês – Elul (אֱלוּל)
Significado: Colheita, vindima.
Festas: — (mês de preparação para o 7º mês).
Lição Prática:
- Avalie sua vida e reconcilie-se com Deus e com o próximo antes do “Dia do Juízo” (Yom Kippur).
- Pratique a autoanálise e o perdão.
📖 Texto-chave: Mt 5:23-24; 2Co 13:5.
7º Mês – Etanim (אֵיתָנִים) / Tishrei
Significado: Fluxos persistentes, rios perenes.
Festas: Yom Teruá, Yom Kippur, Sukkot.
Lição Prática:
- Mantenha-se firme e constante na presença de Deus.
- Responda ao toque da trombeta espiritual: arrependa-se e prepare-se para o Reino.
- Celebre a presença de Deus em sua “tenda” (vida).
📖 Texto-chave: Lv 23:23-44; 1Co 15:52.
8º Mês – Bul (בּוּל) / Marhesvã
Significado: Produção, aumento.
Festas: —
Lição Prática:
- Tempo de crescimento silencioso e maturação — nem sempre é estação de festa, mas de consolidação.
- Persevere mesmo sem ver resultados imediatos.
📖 Texto-chave: Gl 6:9; Sl 1:3.
9º Mês – Quisleu (כִּסְלֵו)
Significado: Esperança, confiança.
Festas: — (Hanucá, festa histórica).
Lição Prática:
- Reforce sua confiança em Deus em tempos de adversidade.
- Mantenha acesa a luz da fé mesmo quando o ambiente ao redor parece sombrio.
📖 Texto-chave: Hb 10:35-36; Sl 27:1.
10º Mês – Tebete (טֵבֵת)
Significado: Afundar, mergulhar.
Festas: —
Lição Prática:
- Permita que Deus “mergulhe” você em processos de purificação.
- Busque profundidade na oração e no estudo da Palavra.
📖 Texto-chave: Sl 42:7; Ef 3:17-19.
11º Mês – Sebate (שְׁבָט)
Significado: Vara, cajado.
Festas: —
Lição Prática:
- Aceite a disciplina de Deus como expressão de amor.
- Lembre-se de que Ele guia com Sua vara e cajado para proteger e corrigir.
📖 Texto-chave: Sl 23:4; Hb 12:5-6.
12º Mês – Adar (אֲדָר)
Significado: Força, poder.
Festas: — (Purim, festa histórica).
Lição Prática:
- Confie que a alegria do Senhor é sua força, mesmo em meio às batalhas.
- Reafirme sua identidade como povo escolhido e protegido por Deus.
📖 Texto-chave: Ne 8:10; Et 9:22.
📜 Conclusão
O calendário bíblico é um relógio profético que aponta para a obra redentora de Deus. Conhecer seus termos hebraicos e significados é entrar no ritmo divino e perceber que as festas não são apenas memória, mas anúncio do que ainda está por vir.