Muitas vezes pensamos que os maiores inimigos da nossa fé são externos: circunstâncias, oposições, ataques espirituais. No entanto, a Bíblia revela que as crenças limitantes dentro de nós — pensamentos focados em nós mesmos, medo, incredulidade, autossuficiência, orgulho — são capazes de impedir que vivamos plenamente as promessas de Deus. Este estudo nos mostra pessoas que, individualmente, perderam bênçãos, atrasaram milagres ou limitaram seu próprio destino por causa de pensamentos e atitudes que não se alinharam à Palavra.
O casamento é uma aliança criada por Deus para que dois se tornem uma só carne (Gn 2:24). Quando essa união está firmada na fé, ela gera vida, proteção e promessa. Porém, quando um dos cônjuges escolhe a incredulidade, o pecado ou o desprezo pelas coisas espirituais, toda a família é afetada. Neste estudo, veremos exemplos marcantes da Bíblia onde as escolhas de maridos e esposas limitaram ou destruíram bênçãos. Cada texto traz um alerta: a fé ou incredulidade de um só pode abrir ou fechar portas para toda a casa.
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ToggleCrenças limitantes do individuo e suas graves consequências
Moisés – O Medo de Falar
Quando Deus chamou Moisés para libertar o povo de Israel do Egito, ele imediatamente revelou sua maior limitação: o medo de falar em público. Em Êxodo 4:10 está escrito:
- “Então disse Moisés ao Senhor: Ah! Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem outrora nem desde que tens falado ao teu servo, porque sou pesado de boca e pesado de língua.”
- Em hebraico:
וַיֹּאמֶר מֹשֶׁה אֶל־יְהוָה בִּי אֲדֹנָי לֹא אִישׁ דְּבָרִים אָנֹכִי גַּם מִתְּמוֹל גַּם מִשִּׁלְשֹׁם גַּם מֵאָז דַּבֶּרְךָ אֶל־עַבְדֶּךָ כִּי כְבַד־פֶּה וּכְבַד־לָשׁוֹן אָנֹכִי׃
Palavras-chave:
- כְבַד־פֶּה (khevád-peh) – “pesado de boca”, indicando dificuldade de expressão verbal.
- כְבַד־לָשׁוֹן (khevád-lashón) – “pesado de língua”, sugerindo um bloqueio ou limitação na fala.
Moisés acreditava que sua limitação o desqualificava para a missão. Mas Deus respondeu em Êxodo 4:11-12:
“Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor? Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar.”
Em hebraico:
וַיֹּאמֶר יְהוָה אֵלָיו מִי שָׂם פֶּה לָאָדָם אוֹ מִי־יָשׂוּם אִלֵּם אוֹ חֵרֵשׁ אוֹ פִקֵּחַ אוֹ עִוֵּר הֲלֹא אָנֹכִי יְהוָה׃
וְעַתָּה לֵךְ וְאָנֹכִי אֶהְיֶה עִם־פִּיךָ וְהוֹרֵיתִיךָ אֲשֶׁר תְּדַבֵּר׃
👉 A lição é clara: nossas crenças limitantes não anulam o chamado de Deus. O próprio Criador garante que Ele é quem capacita, fortalece e coloca as palavras certas em nossa boca. O que parecia ser a maior fraqueza de Moisés tornou-se o palco para a manifestação do poder de Deus.
Gideão – Autoimagem de Fraqueza
A história de Gideão é um dos retratos mais claros na Bíblia sobre como uma autoimagem limitada pode aprisionar alguém, mesmo quando Deus o chama para algo grandioso. Quando o anjo do Senhor o encontra, Gideão está malhando trigo escondido, com medo dos midianitas (Juízes 6:11). A primeira palavra de Deus para ele é reveladora:
“Então o anjo do Senhor lhe apareceu e lhe disse: O Senhor é contigo, homem valente.”
(Juízes 6:12)
No hebraico, a expressão גִּבּוֹר הַחַיִל – gibbor haḥayil significa “homem poderoso de força/valor”. É um título de guerreiro, de alguém destinado a grandes feitos. No entanto, Gideão imediatamente responde com a lente de sua autoimagem distorcida:
“Ah, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai.”
(Juízes 6:15)
A palavra hebraica הַצָּעִיר – hatsá‘ir usada aqui para “o menor” não significa apenas “jovem” ou “pequeno”, mas também pode carregar o sentido de “insignificante” ou “sem importância”. Gideão enxergava a si mesmo como alguém incapaz, sem voz e sem relevância.
Esse contraste é poderoso: Deus o chama “valente”, mas ele se chama “pequeno”. A crença limitante de Gideão não era a falta de recursos externos, mas a falta de percepção interna sobre quem ele era em Deus.
Mesmo assim, o Senhor responde com firmeza:
“Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás os midianitas como se fossem um só homem.”
(Juízes 6:16)
O que libertou Gideão de sua autoimagem frágil não foi um discurso motivacional, mas a presença de Deus e a certeza de que ele não lutaria sozinho.
- Lição prática: Muitas vezes nossas crenças limitantes surgem da forma como nos comparamos com outros ou com nossas circunstâncias. Mas Deus vê além das nossas inseguranças. Ele nos chama não pelo que somos em nós mesmos, mas pelo que podemos ser n’Ele.
- Desafio: Identifique áreas da sua vida onde você se sente “pequeno” (hatsá‘ir) e substitua essa visão pela identidade que Deus já declarou sobre você: amado, escolhido e chamado para propósitos maiores.
Naamã – Orgulho que impediria a cura
Naamã era um comandante poderoso do exército da Síria, respeitado, admirado e vitorioso em muitas batalhas. No entanto, sofria de lepra, uma enfermidade terrível e sem cura na época. Quando o profeta Eliseu lhe enviou a instrução simples de mergulhar sete vezes no rio Jordão para ser curado, Naamã reagiu com indignação e orgulho:
- 2 Reis 5:11-12 (ARC):
“Porém Naamã muito se indignou, e se foi, dizendo: Eis que eu dizia comigo: Certamente ele sairá, por-se-á em pé, invocará o nome do Senhor seu Deus, passará a mão sobre o lugar, e restaurará o leproso. Não são, porventura, Abana e Farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar purificado? E voltou-se e se foi com indignação.” - Hebraico (Melachim Bet 5:11-12):
וַיִּקְצֹף נַעֲמָן וַיֵּלֶךְ וַיֹּאמֶר הִנֵּה אָמַרְתִּי אֵלַי יֵצֵא יָצֹא וְעָמַד וְקָרָא בְּשֵׁם יְהוָה אֱלֹהָיו וְהֵנִיף יָדוֹ אֶל־הַמָּקוֹם וְאָסַף הַמְּצֹרָע׃
הֲלֹא טוֹב אֲמָנָה וּפַרְפַּר נַהֲרוֹת דַּמֶּשֶׂק מִכֹּל מֵימֵי יִשְׂרָאֵל הֲלוֹא אֶרְחַץ בָּהֶם וְטָהָרְתִּי וַיִּפֶן וַיֵּלֶךְ בְּחֵמָה׃ - Palavras-chave:
- וַיִּקְצֹף (vayiqtzof) – “indignou-se, enfureceu-se”.
- טָהֵר (taher) – “ficar limpo, purificado”. Sua cura dependia de quebrar o orgulho.
Seu orgulho quase o impediu de receber a bênção que Deus tinha preparado. Ele esperava um ritual grandioso, algo compatível com sua posição e status, mas Deus exigiu dele humildade e obediência. Foi apenas quando Naamã deixou de lado sua crença limitante — a ideia de que sua posição social lhe dava direito a um método especial ou mais digno — que a cura aconteceu.
Assim, Naamã nos ensina que muitas vezes nossas próprias barreiras interiores, como o orgulho, a autossuficiência ou a resistência a instruções simples, podem nos impedir de receber milagres. A verdadeira transformação vem quando aprendemos a confiar em Deus com um coração humilde, aceitando Seus caminhos, ainda que pareçam simples ou diferentes das nossas expectativas.
Tomé – A Incredulidade Pós-Ressurreição
Tomé, também chamado de Dídimo, é lembrado na Bíblia como aquele que duvidou da ressurreição de Jesus até vê-Lo pessoalmente. Quando os discípulos anunciaram: “Vimos o Senhor”, ele respondeu:
- João 20:25,27 (ARC):
“Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. (…) Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.”- Grego (João 20:25,27):
Ἐὰν μὴ ἴδω ἐν ταῖς χερσὶν αὐτοῦ τὸν τύπον τῶν ἥλων… οὐ μὴ πιστεύσω.
μὴ γίνου ἄπιστος ἀλλὰ πιστός.Palavras-chave (grego):
- οὐ μὴ πιστεύσω (ou mē pisteusō) – “de maneira nenhuma crerei”.
- ἄπιστος (apistos) – “incrédulo, sem fé”.
- πιστός (pistos) – “crente, fiel, confiável”.
Esse episódio revela uma crença limitante ligada à incredulidade: Tomé acreditava apenas no que podia tocar e ver com os próprios olhos. Sua mente estava condicionada pela lógica humana e pelo trauma da crucificação, o que o impediu, num primeiro momento, de confiar no testemunho de seus irmãos e na promessa de Jesus.
Contudo, quando Jesus apareceu novamente, convidando-o a tocar em Suas feridas, Tomé foi confrontado com a verdade que ultrapassava seus limites de fé. Sua resposta foi imediata e transformadora:
“Senhor meu e Deus meu!” (João 20:28)
Esse relato nos ensina que a incredulidade pode nos afastar de viver experiências profundas com Deus. No entanto, a graça de Cristo não rejeita o coração que luta para crer; antes, Ele se apresenta, quebrando barreiras internas e transformando dúvidas em confissão de fé.
Aplicação prática: muitas vezes limitamos nossa caminhada espiritual àquilo que conseguimos compreender racionalmente. O convite de Jesus é: “Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20:29). A fé verdadeira não depende apenas do que vemos, mas da confiança no caráter e na palavra do Senhor.
Lições Práticas para o indivíduo com crenças limitantes
- O medo pode limitar nossa voz (Moisés).
- A autoimagem negativa nos paralisa (Gideão).
- O orgulho nos impede de obedecer (Naamã).
- A incredulidade nega a experiência com Cristo (Tomé).
Desafios para superação das crenças limitantes individuais
- Identifique: quais são as crenças limitantes que você carrega? (medo, inferioridade, orgulho, incredulidade).
- Declare diariamente promessas bíblicas que confrontam essas crenças.
- Ore pedindo: “Senhor, transforma minhas limitações em oportunidades de Teu poder se manifestar.”
Crenças limitantes nos cônjuges e suas graves consequências
Eva e Adão – A Queda no Éden
A narrativa da queda no Éden (Gênesis 3) revela a primeira e mais profunda crença limitante da humanidade: a desconfiança em relação à Palavra de Deus. Quando a serpente questionou Eva: “É assim que Deus disse…?” (Gn 3:1), lançou dúvida sobre a bondade e a fidelidade do Criador. Eva e Adão passaram a acreditar que Deus estava retendo algo bom deles, como se a verdadeira plenitude estivesse fora da vontade divina. Essa mentalidade limitante os levou à desobediência e, consequentemente, à separação de Deus.
- Gênesis 3:6-7 (ARC):
“E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.” - Hebraico (Bereshit 3:6-7):
וַתֵּרֶא הָאִשָּׁה כִּי־טוֹב הָעֵץ לְמַאֲכָל וְכִי־תַאֲוָה הוּא לָעֵינַיִם וְנֶחְמָד הָעֵץ לְהַשְׂכִּיל וַתִּקַּח מִפִּרְיוֹ וַתֹּאכַל וַתִּתֵּן גַּם־לְאִישָׁהּ עִמָּהּ וַיֹּאכַל׃
וַתִּפָּקַחְנָה עֵינֵי שְׁנֵיהֶם וַיֵּדְעוּ כִּי עֵירֻמִּם הֵם וַיִּתְפְּרוּ עֲלֵה תְאֵנָה וַיַּעֲשׂוּ לָהֶם חֲגֹרֹת׃ - Palavras-chave:
- טוֹב (tov) – “bom”, mas aqui usado de forma enganosa.
- נֶחְמָד (neḥmad) – “desejável, cobiçado”.
- עֵירֻמִּם (ʿêrummim) – “nus, desprotegidos”, indicando perda da glória.
O erro do primeiro casal foi acreditar que poderiam definir por si mesmos o que era bem e mal, em vez de confiar no Criador. O desejo de “ser como Deus” (Gn 3:5) refletiu orgulho, incredulidade e uma busca equivocada de identidade. Essa crença distorcida abriu a porta para o pecado e suas consequências sobre toda a humanidade (Rm 5:12).
📖 “Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais.” (Jeremias 29:11)
Sara e Abraão – A Pressa na Promessa
- Gênesis 16:2 (ARA):
“Disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de gerar; entra, pois, à minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai.” - Hebraico (Bereshit 16:2):
וַתֹּאמֶר שָׂרַי אֶל־אַבְרָם הִנֵּה־נָא עֲצָרַנִי יְהוָה מִלֶּדֶת בֹּא־נָא אֶל־שִׁפְחָתִי אוּלַי אִבָּנֶה מִמֶּנָּה וַיִּשְׁמַע אַבְרָם לְקוֹל שָׂרָי׃ - Palavras-chave:
- עֲצָרַנִי (ʿatsarani) – “fechou/impediu-me”, revelando incredulidade.
- וַיִּשְׁמַע (vayishmaʿ) – “ouviu, atendeu”, mostrando que Abraão deu ouvidos à voz errada.
Aplicação prática: Muitas vezes caímos na mesma armadilha quando pensamos que a vontade de Deus nos limita, em vez de nos libertar. O inimigo ainda sussurra dúvidas sobre a bondade do Senhor, tentando nos fazer acreditar que fora da Sua Palavra há realização maior. Não adianta buscar atalhos para a “benção” esperada, ela pode se tornar uma grande armadilha, com consequências graves a longo prazo. Mas, assim como Adão e Eva descobriram, a “liberdade” fora de Deus leva apenas à perda e à vergonha.
Portanto, a verdadeira vitória vem quando confiamos plenamente em que a obediência à Palavra é a fonte da vida abundante. As vezes o Eterno não nos concedeu aquilo que sonhamos e desejamos, simplesmente por que ainda não estamos preparados para vivenciar isso. Outras vezes, é por que ainda cremos que podemos alcançar isso com a nossa própria força e capacidade, ao invés de confiar no processo e nos propósitos de Deus. Somos chamados a nos entregar a este processo, não como queremos, mas sim como ELE planejou para nós. Isso pode envolver muito tempo, dor e negarmos a nós mesmos e as nossas vontades.
Mulher de Ló – O Apego ao Passado
A esposa de Ló é lembrada por um único gesto: olhar para trás quando Deus havia ordenado que ela seguisse em frente sem se apegar a Sodoma (Gênesis 19:17,26). A cidade simbolizava o passado corrompido, a vida antiga, mas seu coração ainda estava preso ao que deixava para trás. Esse apego lhe custou a vida, transformando-a em uma estátua de sal.
Esse episódio nos alerta sobre como o apego ao passado pode se tornar uma crença limitante que nos impede de viver o novo de Deus. Muitos não conseguem avançar porque permanecem olhando para erros, dores ou até mesmo conquistas antigas, e assim perdem a oportunidade de experimentar o futuro promissor que o Senhor preparou. Jesus, ao falar sobre os últimos dias, relembrou essa história com uma advertência: “Lembrai-vos da mulher de Ló” (Lucas 17:32).
- Gênesis 19:26 (ARC):
“E a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal.” - Hebraico (Bereshit 19:26):
וַתַּבֵּט אִשְׁתּוֹ מֵאַחֲרָיו וַתְּהִי נְצִיב מֶלַח׃ - Palavras-chave:
- וַתַּבֵּט (vattabet) – “olhou atentamente, fixou os olhos”. Não foi apenas um olhar casual, mas um olhar de desejo e apego.
- נְצִיב מֶלַח (netsīv melaḥ) – “coluna de sal” → símbolo de juízo e lembrança perpétua.
A lição espiritual é clara: quem deseja seguir a direção de Deus precisa aprender a soltar o passado. Olhar para trás com saudade ou arrependimento constante só gera estagnação. Deus nos chama a confiar no que Ele está fazendo hoje e no que ainda fará, pois a vida abundante não está atrás de nós, mas adiante, em Cristo.
Jezabel e Acabe – Idolatria e Maldade
As Crenças Limitantes de Acabe
O texto bíblico declara que Acabe se vendeu para fazer o que era mau aos olhos do Senhor, e o fez porque Jezabel, sua mulher, o incitava (1Rs 21:25). Nessa frase está revelada a tragédia de suas crenças limitantes. Acabe acreditava que ceder era mais fácil do que confrontar. Quando desejava algo e não podia alcançá-lo, como no caso da vinha de Nabote, entregava-se à tristeza e à autopiedade, convencido de que era um homem sem força e sem valor. Seu senso de identidade estava condicionado ao olhar dos outros, sobretudo de Jezabel, e não ao olhar do Deus de Israel. Essa dependência o levou a preferir a aprovação da esposa à obediência ao Senhor, permitindo que a manipulação substituísse a fidelidade.
Acabe também vivia aprisionado pela ideia de que a realização se encontrava no poder, nos bens e nas conquistas externas. Quando tais coisas lhe eram negadas, sentia-se derrotado e vazio, como se sua vida fosse sem sentido. Assim, abriu mão da autoridade espiritual que lhe havia sido dada, para viver como escravo das pressões de quem o cercava. Sua maior fraqueza não estava em Jezabel, mas em si mesmo: no vazio interior que o impedia de dizer não ao mal e sim a Deus.
- 1 Reis 21:25 (ARC):
“Porém ninguém foi como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau aos olhos do Senhor, porque Jezabel, sua mulher, o incitava.” - Hebraico (Melachim Alef 21:25):
רַק לֹא־הָיָה כְּאַחְאָב אֲשֶׁר הִתְמַכֵּר לַעֲשׂוֹת הָרַע בְּעֵינֵי יְהוָה אֲשֶׁר הֵסִתָּה אֹתוֹ אִיזֶבֶל אִשְׁתּוֹ׃ - Palavras-chave:
- הִתְמַכֵּר (hitmakker) – “vender-se, entregar-se totalmente”, como escravo do pecado.
- הֵסִתָּה (hesitah) – “incitar, seduzir, induzir”. Jezabel foi força ativa de desvio.
Lição prática: A queda de Acabe nos ensina que a omissão é também uma forma de pecado. Quem não exerce autoridade sobre suas escolhas será inevitavelmente governado por desejos alheios. Quando deixamos que vozes externas determinem nossos passos, perdemos a liberdade e caímos na mesma armadilha de Acabe: viver como escravos do pecado mesmo sentados em um trono. O caminho de restauração é voltar os olhos ao Senhor, lembrando que somente Ele define nossa identidade e valor. Como diz Tiago: “Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4:7).
As Crenças Limitantes de Jezabel
Jezabel viveu aprisionada na crença de que o poder humano poderia ocupar o lugar da soberania divina. Filha de Etbaal, rei de Sidom, trouxe consigo a convicção de que a idolatria sustentaria sua autoridade. No fundo, sua limitação estava em acreditar que manipulação e violência seriam instrumentos legítimos para garantir estabilidade e domínio. Incapaz de confiar na ordem e na justiça de Deus, construiu sua vida sobre o medo e sobre o controle, convencida de que apenas o seu braço e sua astúcia podiam assegurar o futuro.
Portanto, sua fé não se dirigia ao Senhor, mas ao mito de que quem governa mais forte governa melhor. Por isso, incitou Acabe, manipulou líderes, levantou falsos profetas e perseguiu os servos de Deus. Acreditava que a verdade poderia ser sufocada pela intimidação, e que a consciência poderia ser silenciada pela força. A limitação de Jezabel foi não enxergar que o poder terreno é transitório e que nenhuma estratégia humana pode calar a voz do Altíssimo. Sua vida se tornou símbolo da ilusão de quem pensa que consegue controlar destinos sem se submeter ao Senhor da história.
Lição Prática: A história de Jezabel mostra que toda tentativa de construir identidade e poder fora de Deus se transforma em escravidão disfarçada de liberdade. Aquele que incita a praticar o mal e manipula para se impor acaba sendo prisioneiro do próprio engano. Aprendemos, assim, que as verdadeiras vitórias não nascem do controle, mas da confiança no Eterno. Como está escrito: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” (Sl 127:1).
Mical e Davi, e o desprezo pela adoração
Mical carregava em seu coração a crença limitante de que a dignidade real de Davi deveria estar acima de sua entrega total. Filha de Saul, herdeira de uma mentalidade onde a aparência e a honra externa tinham maior valor que a obediência a Deus, ela olhou para a adoração de Davi e a mediu com os padrões da vaidade humana. O que para Davi era entrega total diante do Senhor, para ela se tornou motivo de desprezo. Em vez de discernir a presença de Deus, Mical se prendeu à ideia de que a adoração deveria se submeter às convenções sociais e as normas tradicionais.
Sua limitação foi acreditar que a fé poderia ser vivida de maneira contida, discreta e respeitável aos olhos dos homens, esquecendo-se de que diante do Altíssimo todo coração é convidado a romper com as aparências e se desnudar em sinceridade. O desprezo em seu coração a afastou do propósito, e a consequência foi a esterilidade, símbolo de uma vida sem fruto espiritual. Ao rejeitar a adoração, ela rejeitou também a fertilidade da promessa.
- 2 Samuel 6:16,23 (ARC):
“E sucedeu que, entrando a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo ao rei Davi que ia saltando e dançando diante do Senhor, o desprezou no seu coração. (…) E Mical, filha de Saul, não teve filhos até ao dia da sua morte.” - Hebraico (Shemuel Bet 6:16,23):
וְהָיָה אֲרוֹן־יְהוָה בָּא עִיר־דָּוִד וּמִיכַל בַּת־שָׁאוּל נִשְׁקְפָה בְּעַד הַחַלּוֹן וַתֵּרֶא אֶת־הַמֶּלֶךְ דָּוִד מְפַזֵּז וּמְכַרְכֵּר לִפְנֵי יְהוָה וַתִּבֶז לוֹ בְּלִבָּהּ׃
וּלְמִיכַל בַּת־שָׁאוּל לֹא הָיָה לָהּ יָלֶד עַד יוֹם מוֹתָהּ׃ - Palavras-chave:
- וַתִּבֶז (vativez) – “desprezou, humilhou”.
- יָלֶד (yeled) – “filho, descendência” → esterilidade como juízo.
Lição Prática: A história de Mical nos desafia a examinar se não temos permitido que o orgulho, a opinião dos outros ou o peso das tradições impeçam nossa entrega diante de Deus. Adoração não é espetáculo social, mas fruto de um coração quebrantado. Quem teme parecer tolo diante dos homens corre o risco de perder a herança diante do Senhor. É melhor ser desprezado aos olhos do mundo e frutífero na presença de Deus do que preservar uma imagem estéril. Como Yeshua ensinou: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (João 4:23).
Ananias e Safira, Mamon e a mentira
Este é um dos casos mais graves descritos na palavra de Deus, o amor ao dinheiro levou este casal a pensar que poderiam viver em dois mundos distintos, o de Mamon e o de Deus. A advertência de Yeshua é clara:
Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;
Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.
Mateus 6:19-21
Yeshua adverte que o que temos de material neste mundo, não importa a nossa condição, é suficiente, nosso foco deve estar em ajuntar tesouros nos céus e não na terra. Em um tempo em que o evangelho que é pregado se mistura com as riquezas deste mundo, este é outro evangelho. Infelizmente vivemos em um tempo em que o ter é o objetivo do crer. E o crer não é validado se você não tem. Não é pecado desejar uma vida melhor. Mas é pecado abandonar a primazia do Reino de Deus em detrimento dos bens materiais.
- Atos 5:1-2,9-10 (ARC):
“Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade, e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a depositou aos pés dos apóstolos. (…) Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí a porta os pés dos que sepultaram a teu marido, e também te levarão a ti. E logo caiu ela aos seus pés e expirou. E, entrando os moços, acharam-na morta; e, levando-a, sepultaram-na junto de seu marido.” - Grego (Atos 5:2,9):
καὶ ἐνοσφίσατο ἀπὸ τῆς τιμῆς συνειδυίης καὶ τῆς γυναικὸς…
εἶπεν δὲ πρὸς αὐτὴν Πέτρος· Τί ὅτι συνεφωνήθη ὑμῖν πειράσαι τὸ πνεῦμα Κυρίου; - Palavras-chave (grego):
- ἐνοσφίσατο (enosphisato) – “apropriar-se de forma desonesta, reter”.
- συνεφωνήθη (synephōnēthē) – “concordar, estar em conluio”. Mostra que marido e esposa se alinharam na mentira.
Conclusão e Lições Práticas
Todos estes exemplos provam: a atitude espiritual de um só cônjuge pode determinar bênção ou juízo para toda a família.
Lições:
- Ouvir a voz de Deus acima da voz do cônjuge – Adão ouviu Eva e trouxe queda.
- Não apressar a promessa – Sara e Abraão provaram dor por causa da pressa.
- Não olhar para trás – a esposa de Ló perdeu a vida por nostalgia de Sodoma.
- Não incitar ao mal – Jezabel levou Acabe e a casa real ao juízo.
- Não desprezar a adoração – Mical fechou seu próprio ventre.
- Não se unir na mentira – Ananias e Safira morreram por conspirarem contra Deus.
Desafios para Hoje:
- Ore pedindo a Deus: “Senhor, que a minha fé fortaleça, e não enfraqueça, meu cônjuge.”
- Examine-se: sou influência de fé ou de incredulidade dentro do meu lar?
- Decida ser canal de bênção: não limitando, mas edificando o outro em tudo que Deus deseja realizar.