A Parashá Lech-Lecha narra o chamado de Deus a Abrão (mais tarde Abraão) e os eventos que marcam o início da história de Israel.
- O Chamado de Abrão (Gênesis 12:1-9):
Deus ordena a Abrão que deixe sua terra, sua família e a casa de seu pai para ir a uma terra que Ele lhe mostrará. Deus promete abençoar Abrão, fazer dele uma grande nação, e que por meio dele todas as famílias da terra seriam abençoadas. Abrão obedece e, aos 75 anos, parte com sua esposa Sarai (mais tarde Sara) e seu sobrinho Ló para a terra de Canaã. Lá, Deus reafirma Sua promessa de dar aquela terra à descendência de Abrão. - Abrão no Egito (Gênesis 12:10-20):
Uma fome atinge a terra, e Abrão desce ao Egito. Temendo pela sua vida por causa da beleza de Sarai, Abrão pede que ela se passe por sua irmã. O Faraó a toma para sua casa, mas Deus envia pragas sobre o Egito, e o Faraó descobre a verdade. Ele devolve Sarai a Abrão e os expulsa do Egito. - A Separação de Abrão e Ló (Gênesis 13:1-18):
Abrão e Ló prosperam tanto que a terra não pode mais sustentá-los juntos. Para evitar conflitos entre seus pastores, Abrão propõe que se separem. Ló escolhe as férteis planícies do Jordão, enquanto Abrão permanece em Canaã. Deus então renova Sua promessa a Abrão, garantindo-lhe toda a terra que ele vê e prometendo uma descendência numerosa. - Abrão Resgata Ló (Gênesis 14:1-24):
Ló é capturado durante uma guerra entre vários reis locais. Abrão, com a ajuda de seus servos, resgata Ló e derrota os reis. Após a vitória, Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, abençoa Abrão. O rei de Sodoma oferece a Abrão os despojos da guerra, mas ele recusa, afirmando que não quer que ninguém diga que enriqueceu às custas dele. - O Pacto entre as Partes (Gênesis 15:1-21):
Deus faz uma aliança formal com Abrão, prometendo-lhe que sua descendência será tão numerosa quanto as estrelas do céu e que possuirá a terra desde o Egito até o Eufrates. Deus também revela a Abrão que seus descendentes serão escravizados em uma terra estrangeira (Egito), mas que serão libertados com grandes riquezas. - O Nascimento de Ismael (Gênesis 16:1-16):
Sarai, que ainda não teve filhos, sugere que Abrão tenha um filho com sua serva Hagar. Hagar concebe, mas isso provoca tensão entre ela e Sarai. Hagar foge, mas um anjo do Senhor a encontra e manda que ela retorne, prometendo que seu filho, Ismael, será pai de uma grande nação. Ismael nasce quando Abrão tem 86 anos. - O Pacto da Circuncisão e a Mudança de Nomes (Gênesis 17:1-27):
Aos 99 anos, Deus aparece novamente a Abrão, muda seu nome para Abraão, que significa “pai de uma multidão”, e o de Sarai para Sara, que significa “princesa”. Deus promete que Sara dará à luz um filho, Isaac, com quem a aliança será estabelecida. Como sinal da aliança, Abraão e todos os homens de sua casa devem ser circuncidados. Abraão obedece, circuncidando a si mesmo, Ismael e todos os homens de sua casa.
Haftará: Isaías 40:27-41:16
A Haftará desta semana destaca o poder e a fidelidade de Deus, encorajando o povo de Israel a confiar no Senhor, que fortalece os fracos e renova suas forças. Em Isaías 40:27-41:16, Deus reafirma Seu controle sobre o destino das nações e a proteção especial que Ele oferece ao povo de Israel. Ele promete derrotar os inimigos de Israel e assegurar sua vitória.
Essa mensagem de conforto e esperança ecoa as promessas feitas a Abraão na Parashá, em que Deus assegura que ele se tornará uma grande nação, e que, mesmo em meio a desafios e aparentes obstáculos (como a velhice de Abraão e Sara), as promessas divinas serão cumpridas. Ambos os textos destacam a confiança no plano de Deus e Sua habilidade de cumprir Suas promessas, independentemente das circunstâncias.
Referência no Novo Testamento
A Parashá Lech-Lecha (Gênesis 12:1-17:27) trata do chamado de Deus a Abrão (mais tarde Abraão), sua jornada de fé e o estabelecimento da aliança com Deus. No Novo Testamento, Abraão é frequentemente citado como um exemplo de fé e obediência. Uma das passagens mais significativas que se refere a essa narrativa é encontrada em Hebreus 11:8-10:
Hebreus 11:8-10:
“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia. Pela fé, habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador.”
Nesta passagem, Abraão é destacado como um modelo de fé, respondendo ao chamado de Deus e confiando em Suas promessas, mesmo sem ter uma visão clara de seu destino. Isso ecoa o início da Parashá Lech-Lecha, onde Deus ordena a Abrão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gênesis 12:1).
Romanos 4:1-3:
“Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.”
O apóstolo Paulo usa a fé de Abraão como um exemplo de justificação pela fé, em vez de pelas obras. Esta passagem refere-se à confiança de Abraão nas promessas de Deus, o que é central na Parashá Lech-Lecha, particularmente quando Deus promete a Abraão que ele se tornaria pai de uma grande nação, apesar de sua idade avançada e de Sara ser estéril.
Gálatas 3:6-9:
“Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria os gentios pela fé, anunciou primeiro o evangelho a Abraão: Todas as nações serão benditas em ti. De modo que os que são da fé são abençoados com o crente Abraão.”
Aqui, Paulo relembra a promessa feita a Abraão em Gênesis 12:3 — que todas as nações da terra seriam abençoadas por meio dele — e aplica isso àqueles que têm fé em Cristo. Abraão é visto como o “pai” dos crentes, não apenas dos judeus, mas também dos gentios que seguem o exemplo de sua fé.
Essas referências mostram como o Novo Testamento conecta a fé de Abraão à fé cristã, destacando-o como um exemplo de obediência e confiança nas promessas de Deus.